quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Devaneio


                                                                Devaneios
Ela ouviu o vento soprar com mais intensidade.  Embaixo da porta a fresta de luz ganhou um tom mais alaranjado e depois escureceu. Arrepiou-se. Não sabia que horas era. Esteve devaneando o dia todo... E mais uma vez pensou em Gaston Bacherlad:

“A casa, o quarto, o sótão onde ficamos sozinhos dão os quadros de um devaneio interminável, de um devaneio que só a poesia, em uma obra, poderia concluir, realizar.”

A hora de se preparar... Havia um medo imbuído na espera, que ela não sabia explicar: Este era o medo do desconhecido? Este era o medo de não ser nada?

Estivera a naufragar em sonos leves, como na infância. No quarto azulado no final do corredor, tomada de febre, vivia entre o sonho e a realidade, num estado de vigília permanente... A volta do pai, lhe trazendo frutas frescas... O caminhar leve de sua mãe, com o mingau de aveia, forrando levemente o prato de porcelana, salpicado de canela em pó... Gostava de ficar doente!

Perscrutou o silencio. Era a hora que tentava ficar acordada. Poderia então saber se sonhava... Ouviu os passos aproximando e a corrente sendo puxada... A chave girou na porta com um estalido seco e o cheiro de suor... O homem alto abriu devagar a porta, de repente pareceu ser possível ver seu rosto na massa escura que compactava a noite. Apenas uma impressão. Ele se aproximou e ela tremeu... Passou as mãos em seu pescoço e colocou em sua boca uma garrafa com água e só então ela descobriu como estava seca sua garganta. Tossiu antes do segundo gole. Ele tremeu e acelerou a respiração, era como se qualquer som que viesse dela o excitasse. Balbuciou algumas palavras inaudíveis e a alimentou com geleia de frutas, lambendo sua boca para limpar o que escorria. Ela acelerou a respiração. Ansiava pela boca dele e a urgência com quê a beijava, mas ele desceu as mãos por suas pernas e depois a abraçou ternamente. 

Ela soluçou baixinho... 

Ele fez um psiu, sussurrando em sua boca e logo depois enfiou a língua, mordendo os lábios, machucando, feroz... Ela gemeu envolvendo-o com um abraço e esqueceu o medo...   

Todo seu corpo se preparou para recebê-lo...

 Ele enfiou a mão áspera na sua calcinha, já um tanto rasgada, pelas outras vezes e friccionou o dedo em seu clitóris fazendo-a gritar de prazer. Desprendeu-se dele e buscou o centro de seu  prazer , envolvendo-o com a língua, passando em volta daquela forma ereta, sentiu o sabor quente e isso a fez aumentar o movimento com a boca, sugando, lambendo... Ele a jogou no chão e rasgou o que restava de sua calcinha, enfiando a língua em seu sexo e depois se concentrou na parte arredondada e mágica, ela gritou enlouquecida, ele lambeu seu liquido e a virou com determinação, penetrou-a por trás, segurando com força seus cabelos e mordendo seu pescoço, ela movimentou o quadril e novamente entrou num túnel de fogo  despencando cegamente, e de novo e de novo...

 Esfregou o rosto no chão empoeirado, ainda com os acordes do prazer intenso, lambendo o dedo e revirando os olhos... Ouviu a porta se fechando... Levantou a cabeça tentando chamar o homem que a possuíra... Será que ele voltaria no dia seguinte? Quem seria ele? Ela estava confinada nesse lugar escuro, distante de qualquer lugar e não sabia por quê. Seria ele seu raptor? Seu amante?... Desde que estivera ali se perguntava... E quem era ela? 

Dormiu como sempre um sono agitado e quando acordou o Sol iluminava seu corpo. Sentiu um arrepio de desgosto. 

Estava livre?

Nunca o Sol a atingira tanto... Fechou os olhos e virou-se lentamente...  Descobriu-se em meio a lençóis de algodão, um aroma adocicado invadiu sua narina, ouviu alguém respirando próximo ao seu rosto e quando abriu os olhos um  rosto familiar lhe sorriu:
-Está tudo bem agora, querida!