quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Manhã de Chuva

Manhã de chuva... Quietas as pessoas olham pelas vidraças, vestígios da noite navegando nos riachos desse instante.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Devaneio


                                                                Devaneios
Ela ouviu o vento soprar com mais intensidade.  Embaixo da porta a fresta de luz ganhou um tom mais alaranjado e depois escureceu. Arrepiou-se. Não sabia que horas era. Esteve devaneando o dia todo... E mais uma vez pensou em Gaston Bacherlad:

“A casa, o quarto, o sótão onde ficamos sozinhos dão os quadros de um devaneio interminável, de um devaneio que só a poesia, em uma obra, poderia concluir, realizar.”

A hora de se preparar... Havia um medo imbuído na espera, que ela não sabia explicar: Este era o medo do desconhecido? Este era o medo de não ser nada?

Estivera a naufragar em sonos leves, como na infância. No quarto azulado no final do corredor, tomada de febre, vivia entre o sonho e a realidade, num estado de vigília permanente... A volta do pai, lhe trazendo frutas frescas... O caminhar leve de sua mãe, com o mingau de aveia, forrando levemente o prato de porcelana, salpicado de canela em pó... Gostava de ficar doente!

Perscrutou o silencio. Era a hora que tentava ficar acordada. Poderia então saber se sonhava... Ouviu os passos aproximando e a corrente sendo puxada... A chave girou na porta com um estalido seco e o cheiro de suor... O homem alto abriu devagar a porta, de repente pareceu ser possível ver seu rosto na massa escura que compactava a noite. Apenas uma impressão. Ele se aproximou e ela tremeu... Passou as mãos em seu pescoço e colocou em sua boca uma garrafa com água e só então ela descobriu como estava seca sua garganta. Tossiu antes do segundo gole. Ele tremeu e acelerou a respiração, era como se qualquer som que viesse dela o excitasse. Balbuciou algumas palavras inaudíveis e a alimentou com geleia de frutas, lambendo sua boca para limpar o que escorria. Ela acelerou a respiração. Ansiava pela boca dele e a urgência com quê a beijava, mas ele desceu as mãos por suas pernas e depois a abraçou ternamente. 

Ela soluçou baixinho... 

Ele fez um psiu, sussurrando em sua boca e logo depois enfiou a língua, mordendo os lábios, machucando, feroz... Ela gemeu envolvendo-o com um abraço e esqueceu o medo...   

Todo seu corpo se preparou para recebê-lo...

 Ele enfiou a mão áspera na sua calcinha, já um tanto rasgada, pelas outras vezes e friccionou o dedo em seu clitóris fazendo-a gritar de prazer. Desprendeu-se dele e buscou o centro de seu  prazer , envolvendo-o com a língua, passando em volta daquela forma ereta, sentiu o sabor quente e isso a fez aumentar o movimento com a boca, sugando, lambendo... Ele a jogou no chão e rasgou o que restava de sua calcinha, enfiando a língua em seu sexo e depois se concentrou na parte arredondada e mágica, ela gritou enlouquecida, ele lambeu seu liquido e a virou com determinação, penetrou-a por trás, segurando com força seus cabelos e mordendo seu pescoço, ela movimentou o quadril e novamente entrou num túnel de fogo  despencando cegamente, e de novo e de novo...

 Esfregou o rosto no chão empoeirado, ainda com os acordes do prazer intenso, lambendo o dedo e revirando os olhos... Ouviu a porta se fechando... Levantou a cabeça tentando chamar o homem que a possuíra... Será que ele voltaria no dia seguinte? Quem seria ele? Ela estava confinada nesse lugar escuro, distante de qualquer lugar e não sabia por quê. Seria ele seu raptor? Seu amante?... Desde que estivera ali se perguntava... E quem era ela? 

Dormiu como sempre um sono agitado e quando acordou o Sol iluminava seu corpo. Sentiu um arrepio de desgosto. 

Estava livre?

Nunca o Sol a atingira tanto... Fechou os olhos e virou-se lentamente...  Descobriu-se em meio a lençóis de algodão, um aroma adocicado invadiu sua narina, ouviu alguém respirando próximo ao seu rosto e quando abriu os olhos um  rosto familiar lhe sorriu:
-Está tudo bem agora, querida!



quinta-feira, 12 de julho de 2012

Valentina



O eu profundo lhe tocado, ela já havia se prevenido dessas e de outras imitações de felicidade, mas era muito difícil sentir esta dilatação nas veias e se resguardar da dor e do prazer. O temor de entrar num barco a deriva esmaeceu depois de experimentar a deliciosa aventura de está nos braços daquele seu amorzinho. Ele, um poeta irresponsável, vagabundo, que viajara o mundo inteiro, apenas carregando uma velha e gasta mochila de exército, já sem cor e sem possibilidades de amarras, e uma flauta ensebada, que tocava depois do sexo. Ela, com sua profunda sabedoria, a cerca da vida. Sempre estivera com homens que dormiam depois do sexo, dando-lhe o espaço necessário para devanear, nestes momentos que eram de verdadeiro prazer, a dançar numa bolha de ar, com o homem ideal, ás margens do rio Sena, ouvindo apenas um sussurro em francês, que certamente, falava do seu amor imaginário, de sua beleza interior e do quanto seriam felizes para sempre, suscetível a estas aventuras, o que era de se esperar de toda mulher sábia, suspirou profundamente. Enquanto pensava nestas coisas o rosto grave de seu amorzinho, que se mantivera obscuro até então, explodiu num facho de luz, contemplando-a e adivinhando seu pensamento. Ele a ergueu e depois de beijar seu pescoço a conduziu para uma dança, girando seu corpo como pluma para dentro de uma música imaginária, de ritmos cadenciados. Ela se sentiu estranhamente assustada, como se aquele momento pudesse lhe trazer um desconhecido perigo. Ergueu seu olhar e bebeu da grande taça de um soberbo prazer, a imaginar lá fora as flores que cresciam na rudeza agreste daquele lugar, embaixo das negras sombras de casas erguidas a serpentearem uma estradinha de barro com pedriscos que rolavam a esmo pelas fendas do tempo. Não pensou em sua timidez, nem na sua nudez, deixou o corpo escorregar para a palha macia, uma fresta no telhado fazia a luz escorrer para seu umbigo, onde se podia ver um balé de poeira, que pousava delicadamente na pele, tampouco pensou nas malvadas paixões de seu amorzinho, comungou com ele a inescrutável estrada para alcançar a divindade e adormeceu na irreverência daquele encontro.

terça-feira, 3 de julho de 2012

Teu Segredo


Na porta que se abria,
O ultimo refugio...
Ainda o gosto do beijo molhado, tão ao acaso.
Dos dedos tantos segredos
Como  Ariadne,
Emaranhando-se no próprio fio do desejo.

E tem mais liberdade quem sabe guardar seus segredos...
O que seria de nós nos próximos dias...

Ainda aquele beijo
Refugio de uma paixão fugidia
Que se quer sabia que existia...
A verdade crua, que se volta contra nós.
Tantos anos se passaram...
Melhor brincar com o tempo...
Adormecidos
Imaginávamos que correríamos na rua,
molhando o vestido de algodão e o jeans desbotado.
Meu amor!
A Paixão é tanta agonia...

 Noites insones ainda a saborear tua língua
Com aquele sabor de roubado
Ousado.
O que seria de nós naqueles dias?
Nem o manto tênue da mitologia
A nos proteger da servidão do desejo.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Sertão de amor

Bernardino -  
No sertão dos lamento, das tristeza e  das dor,
É o canto dos vaqueiro em sua montaria que ecoa na aridez...
A aridez das muié diante da seca,
Os camim sem fim.
As minina abre as janela e espia,
Espia pra além dos seus olhos...
O amô que nunca voltou
E espia a noite engolir o dia.


Bernardino de Bendengó -
Quando a pedra santa despencou do céu, sua luz cortou o breu da noite e alumiou todo sertão.
As criatura da noite arribaram cantano
Pros anjo que desceram cum ela
Os que fugiram,
Os que  acanharam,
Os que caíram de joelhos na terra seca...
Todos eles viram seu explendor!
Os homi das palavra escreveram seus verso, que até hoje estão incrustado,
Nas lapa e nos riacho.
Eu incantado com tanto mistério
Fui o premêro a chegar perto dela... Vi escrito em sua negrura as promessa de Nosso Senhor.
O homi Santo ta pra chegar e abençuar todo sertão...
Caminhei ao seu lado e escutei sua profecia que dizia: “Um dia
O sertão vai virar mar.”
Segurei sua bandêra e bebi de seu vim
Que deixou um travo de morte em minha língua.
Batalhei cum as sombra do meio dia e olhei nos zoio dos que sucumbiram
O reflexo da estrela de prata e do lenço vermeio do pescoço do justiceiro.

A donzela que curou minhas ferida,
só chegou na madrugada fria
e eu nem sabia que era herói,
Mas fui um rei na minha cama de paina,  naqueles dias.

Mas fui embora...
Já tinha me acostumado com as istrada do sertão, caminhar pelos estreito, com a lua refletida no riacho do gavião.
Fui na casa do cantadô e conheci a história da mulher que virou pássaro e os dois home que morreram por ela.

Do meu cavalo saltei numa nau de sonhos e naveguei no fio do véio Chico, conheci o mundo intêro inté o fim do dia.
Quando aportei na areia prateada, ouvi a música que chegava da casa dos vaquêro. Brinquei no boi reluzente enquanto as mulhé bordava o manto do divino.
E lá, meu senhor,  fui desafiado a trazer pro o sertão o Rei do Baião.
Que nacesse em nosso povo aquela alegria, numa noite de São João.
Pedi licença a Zé Danta... fui menino, fui anjo e como numa fantasia, fui abençoado desde intão
 

Apresentado no Espetáculo "Baião de Nois" na Celebração das Culturas do Sertão

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Poemas Dispersos

"Daqui a pouco acaba o dia.
 Não fiz nada.
 Também, que coisa é que faria?
 Fosse o que fosse, estava errada.
 Daqui a pouco a noite vem.
Chega em vão
 Para quem como eu só tem
 Para contar o coração.
 E após a noite a irmos dormir
Torna o dia.
Nada farei senão sentir.
 Também que coisa é que faria?"
 Fernando Pessoa, Poemas dispersos

Náufragos, salvo a arte.

Sentaram-se os dois. Havia um pouco de mormaço naquela manhã de abril. O ar pesava dentro do bar escuro. Uma luz de neon se repetia, meio frívola, anunciando o nome do bar, o N não ascendia direito e parecia apenas um garrancho iluminado. Os dois se olhavam nos olhos, como que hipnotizados por aquele momento. Ela não se continha de paixão. Ele não se continha de descontentamento. Ele chamou o garçom. A cerveja caiu alaranjada de neon no copo. Brindaram sem saber a quê exatamente. Ela regressou a sua solidão, havia demasiada ilusão em seus momentos e os lábios dele refletiam desdenho na borda do copo. Ele não achava que ela tinha o direito de sentir nada. Aquele corpo meio disforme, aos seus olhos, aquele sorriso, meio disforme, aos seus olhos... Ele era um artista. Amado por mulheres lindas e jovens e lindas e jovens... Ela não tinha o direito. Ela quase ouve seu pensamento. Sentiu um desdenho. Ele tão disforme, salvo a arte. Ele tão disforme em suas exigências, salvo a arte. Ele com os olhos meio tortos, incrustados numa pele enrugada e macilenta, o arco da sobrancelha de aspecto cômico, como um palhaço que chorava. A boca enviesada como um arlequim... Salvo a arte. Ela, coração ígneo, avistou da proa a terra... Os sonhos dissolveram no ar... Na língua um gosto de cerveja e pó, do que se desfez... O neon sucumbiu. Algum Sol rompeu o mormaço, o bar foi inundado de uma luz exigente. Ele opaco... Ela faminta. Havia de fato um mistério horizontal... Calaram-se num sorriso meio trôpego, enterrando numa vala no fundo do oceano, todo o descontentamento... Salvo a arte.